A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou nesta
quarta-feira (30/01) o ranking de liberdade de imprensa entre 179
países. O Brasil caiu nove posições em relação à classificação de 2012 e
ocupa a 108ª posição.
O relatório cita os motivos pelos quais o Brasil, considerado modelo
regional e motor econômico da América Latina, perdeu posições na
classificação: cinco jornalistas mortos em 2012, a concentração dos
meios de comunicação no país e, ainda, o marco regulatório da mídia
brasileira – que ainda é do tempo da didatura militar.
A censura prévia pela Justiça aos veículos de imprensa no Brasil também
foi apontada como sério problema e está entre os fatores responsáveis
pela piora na classificação do país desde o ano passado. "Há três anos
que o jornal
O Estado de São Paulo não pode publicar assuntos
que incomodem os interesses da família Sarney", frisou Benoît Hervieu,
diretor do escritório para as Américas da RSF, em entrevista à DW.
O panorama midiático do país mereceu a divulgação, no final de janeiro,
do relatório "Brasil, o país dos trinta Berlusconis". No estudo, a RSF
aborda os maiores desequilíbrios e obstáculos que caracterizam o
panorama midiático da maior economia sul-americana e o fato de grande
parte das mídias locais e regionais pertencerem a políticos.
"Esse é um obstáculo para a independência da mídia. É uma imprensa que
muitas vezes responde somente aos interesses dos políticos, tornando
impossível se ter uma informação realmente plural", frisou.
Os países das Américas que estão melhor colocados no ranking são:
Jamaica (13º), Costa Rica (18º), Canadá (20º), Uruguai (27º), Suriname
(31º) e Estados Unidos (32º). A Argentina caiu sete posições e ocupa a
57ª posição. Entre os motivos, estão os conflitos entre o governo e
alguns grupos privados de imprensa, como o Clarín, em particular por
causa da nova Lei dos Meios de Comunicação da Argentina.
Países europeus no topo
A parte superior do ranking é ocupada por três países europeus:
Finlândia, Holanda e Noruega – as nações ocupam as mesmas colocações
pela terceira vez consecutiva. Os motivos para isso são critérios como a
baixa incidência de violência contra jornalistas, assim como a
legislação desses países. A Alemanha caiu uma posição em relação ao
relatório divulgado no ano passado e ocupa hoje a 17ª colocação.
Os casos mais sérios são o Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia.
Esses países são chamados pela organização de "o trio infernal" e, como
no ano anterior, ocupam as três últimas colocações no relatório de 2013.
Censura prévia da Justiça a veículos da mídia é grave no Brasil, disse Hervieu
O índice é publicado anualmente pela organização e avalia o
grau de liberdade que possuem jornalistas, meios de comunicação e
cidadãos para manifestarem sua opinião. Além disso, a RSF avalia as
medidas implementadas pelos países para que essa liberdade seja
respeitada.
"A classificação mundial publicada pela RSF não leva em conta
diretamente o tipo de regime político. Entretanto, parece claramente que
as democracias protegem melhor a liberdade de produção e difusão de
informações do que os países que desprezam outros direitos humanos",
concluiu Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.
A organização informou também o índice de liberdade de imprensa por
região global. O cálculo se baseia em uma média relacionada à população,
com resultados que vão de zero a 100, sendo que zero representa uma
situação ideal. A Europa obteve 17,5 pontos; as Américas, 30;
Ásia-Pacífico, 42,2; e a Rússia e os países da antiga União Soviética,
45,3.
A violência contra jornalistas durante a Primavera Árabe fez com que a
região do Oriente Médio-Norte da África ficasse em último lugar, com
48,5 pontos. Depois dos movimentos de protesto nesses países,
entretanto, o relatório de 2013 mostra o retorno de uma "certa
normalidade" e verifica atitudes positivas dos governos frente à
liberdade de imprensa em médio e longo prazos.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Francis França