quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Vamos descomplicar a nossa língua

O fato é que as pessoas não sabem usar aspas. Eu já discuti isso com algumas pessoas porque é um assunto que passa batido pela maioria delas e, quando você encontra alguém que “também” fica “indignado” com quem usa “aspas” pra “enfatizar”, bate um sentimento forte de “identificação” com o “outro” e de “não-estou-sozinho-nesse-mundo”.

Até porque a utilização inadequada de aspas em lugares desnecessárias é capaz de gerar estranhos efeitos cômicos. Aspas serve pra duas coisas - destacar um conteúdo que está sendo reproduzido literalmente da boca de outro indivíduo que não o autor do texto ou denotar que a palavra que você está usando, no contexto, não apresenta significado literal.



Isso significa que essas placas que a gente vê direto por aí, nas quais a gente vê aspas como se fosse vírgula acabam não significando nada. Se o “Cão Bravo” está entre aspas, você parece um idiota escrevendo isso numa placa, porque parece estar reproduzindo algo que alguém disse. E se você colocar aspas só no “Bravo”, vai parecer que 1. ou você foi irônico e seu cão é dócil ou 2. ou “bravo” é seu eufemismo para dizer que seu cachorro é absolutamente sanguinário.

Conclusão: aspas não se aplicam em nenhum dos dois casos.

Ok. Daí alguém - alguém foda, alguém muito esperto - teve a idéia de fazer um blog só sobre placas que usam aspas de maneira indevida. Vi lá no blog do Matias, e fiquei pensando que o Unnecessary Quotes é uma daquelas idéias que eu gostaria de ter tido, como o Coma com os olhos.

Felizmente, essa idéia que eu não tive antes me inspirou a colocar em prática outra que eu já tenho há tempos - um blog com prints e fotos de uso indevido de outro sinal gráfico profundamente injustiçado no uso cotidiano da língua portuguesa, o apóstrofo (cujo endereço ainda não sei qual será, porque “apostrofosdesnecessarios.com” seria o maior FAIL da história das URLs que queriam ser fáceis e diretas*)

O apóstrofo, por definição, já é um sinal gráfico um pouco incompleto. Ele é praticamente uma vírgula de cabeça pra baixo ou, se você preferir, um acento agudo sem letra embaixo, o que é bem triste, se você considerar que ele já é um acento, que é uma função secundária no idioma (pelo menos alguns níveis abaixo das letras na hierarquia alfabética, até onde eu sei)

Mas depois que dar nome de bar com apóstrofo no final virou moda, a coisa degringolou de uma maneira assustadora e o apóstrofo, outrora apenas um sinal gráfico solitário, incompleto e que servia - veja você, que ironia - para substituir qualquer letra faltante em uma palavra (tipo Rock and Roll, que vira Rock’n'roll), como o coringa de um baralho, se alastrou como peste nos nomes de lugares por esse Brasilzão. Ele teve seus momentos de glória, mas durou pouco.

Apesar de muito usado, o apóstrofo sempre foi mal compreendido. Agora estamos rodeados por Bar do Johnny’s e Bar do Zé’s, o que nem é tão condenável, afinal nem João e nem José têm obrigação de usar corretamente o possessivo num idioma estrangeiro. Assutador MESMO é ver professor escrevendo “CD’s” e “DVD’s” na lousa da faculdade, e isso eu já vi várias vezes.

Repita comigo, amigo. Plural em inglês é igual a plural em português - você coloca o “s” e pronto, pode ficar feliz pois terá multiplicado seu substantivo por vários sem nenhuma dificuldade. É quase mágica. O apóstrofo não entra no plural, ele tem outra função. Você NUNCA vai comprar CD’s, nem DVD’s, nem digitar URL’s, muito menos baixar MP3’s, sendo todos eles uma sigla ou não. Você pode até ter AID’s, que com essas coisas não se brinca. Mas tira o apóstrofo. Vai ser muito mais digno.

Eu sei que fica mais bonito, parece estiloso, algo meio “dos EUA”. Mas tá errado. Te garanto’s.

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