AS AVES QUE AQUI GORJEIAM, NÃO GORJEIAM COMO LÁ, NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS, NOSSAS VÁRZEAS TÊM MAIS FLORES, ...
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Joaquim Barbosa, o juiz sem amigos
Agora que é presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa terá de vencer sua natureza solitária e
aprender a fazer política
A tarde da quinta-feira, dia 22 de novembro de 2012, seguia lenta em Brasília quando Joaquim Benedito Barbosa Gomes – negro, filho de uma faxineira e de um pedreiro, relator do julgamento mais difícil da história republicana do Brasil – carregou seu corpo, e tudo o que ele representa, para o púlpito do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF),
de modo a tomar posse como 55o presidente da corte. “Prometo cumprir os
deveres do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal e do
Conselho Nacional de Justiça, em conformidade com as leis”, afirmou
Joaquim, diante da mãe, dona Benedita, e dos demais – do poder, das
celebridades, das câmeras. Foi o evento do ano em Brasília. A capital
celebrou com entusiasmo a posse do primeiro presidente negro no STF.
Estavam lá os atores Lázaro Ramos e Regina Casé, os músicos Djavan e
Martinho da Vila, o piloto Nelson Piquet, o ex-jogador Romário… Estava
lá a presidente Dilma Rousseff,
mais em corpo do que em espírito, conforme se depreendeu de seu esforço
em não sorrir – sob hipótese alguma – nas duas horas de cerimônia.
Estavam lá cerca de 340 almas. Estavam lá, em meio aos cliques e
beija-mãos, para o Joaquim que assumiu, o símbolo, o orgulho e, para
alguns, o parente distante, o colega ocasional. Não estavam lá para o
Joaquim do dia seguinte. Este, quer por opção, quer pelo gênio difícil,
estava só – e continuará só. Joaquim comandará o Judiciário sem amigos.
Ao menos sem os amigos de que precisará: os amigos políticos. A presidência do Supremo é, antes de tudo, um cargo político. Como
presidente, Joaquim terá de se relacionar com os chefes do Executivo e
do Legislativo, com juízes, com burocratas do Judiciário, com advogados,
com jornalistas. Goste ou não – e Joaquim não gosta nada dessa tarefa.
Nos últimos anos, já como ministro do STF, afastando constantemente os
outros, Joaquim pareceu confundir a necessária postura independente do
juiz com uma mais que ocasional resistência aos outros – resistência que
se manifestou no modo colérico como reagiu quando contrariado pelos
colegas ou nas aproximações de advogados e políticos. Agora, porém,
Joaquim é um líder. E um líder político não lidera apenas pelo bom
exemplo. Lidera pelas relações pessoais que cria e mantém, precisamente
com quem pode ajudá-lo no exercício da liderança.
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